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segunda-feira, 1 de maio de 2017
Capoeira Evangélica
A Capoeira foi desenvolvida pelo povo preto no Brasil para servir como instrumento de auto conhecimento, consciência corporal, auto defesa, manutenção de sua historicidade através da oralidade, musicalidade e como todas as práticas culturais pretas, culto aos seus ancestrais. Sendo sido por essas características sabiamente identificada como uma cultura de resistência. Nada feito pelos povos pretos, e/ou africanos ligados a sua ancestralidade através da cultura é feito separado de suas práticas espirituais pois, o mundo espiritual não é visto separadamente da dimensão que experienciamos.
Desde quando entrei na Capoeira, em 2001, todas as rodas que eu ia sempre tinha um mestre ou mais que passava pelo menos meia hora falando sobre a ”militância na Capoeira Angola”, da “Capoeira Angola ser um espaço de resistência” que foi criada por escravizados em ânsia de liberdade e por ai vai... Mas foi somente com a visita do mestre Plinio em 2015, no evento de 10 anos de criação do grupo do qual faço parte, Aluande Capoeira Angola, que eu, pela primeira vez ouvi sobre rituais que faziam parte da preparação para a Capoeira Angola e dos espíritos que guardavam rodas e grupos, iluminando para mim sua dimensão religiosa de um culto aos ancestrais.
Hoje trato com muito mais atenção as músicas que são cantadas e a maneira como a roda de Capoeira, ou seja, o ritual da Capoeira Angola é conduzido, dessa maneira não posso fugir a responsabilidade quando percebo que invocamos energias. Os iniciados nos cultos aos ancestrais presentes nesse ritual, ao meu ver, são os principais responsáveis pela manutenção e condução dessa energia, que é emanada coletivamente, pois são os que sentem através do seu mutuê, e deveriam saber ler a força das cantigas e dos seres que invocados a cada canto.
A muito tempo a Capoeira tem sido vendida pelos seus benefícios esportivos psico motores, econômicos e até sociais, mas tem sido continuadamente negligenciada em sua dimensão espiritual. Eu já ouvi muitos mestres dizendo, “Capoeira não é religião”. Eu respeito, mas sei que a responsabilidade de hoje existir uma Capoeira Evangélica é fruto desse discurso. Pois espaço vazio, é espaço ocupado. E Capoeira no contexto em que vivemos hoje, virou espaço de disputa de poder.
Érida MenhãNsi
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Muito bom seu texto. E concordo com tudo o que você expôs nele. Parabéns.
ResponderExcluirParece estar havendo com a capoeira a mesma história do "bolinho de Jesus", a mesma história que acontece hoje em Recife com os evangélicos, no carnaval a pretexto de "evangelizar" tocando o batuque do maracatu e dançando uma dança, ao som do, estilizada.
ResponderExcluirSe os auto-denominados evangélicos, querem levar para sua prática a capoeira que leve integralmente, com seus rituais e suas músicas
Erida , muito boa a sua reflexão ,a credito que deixamos um espaço vazio, agora estar na hora de retomar ..Axe M cobra mansa
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